Como deve ficar a segurança mundial em 2023, após recorde de mísseis norte-coreanos e quase um ano de guerra na Ucrânia – @gazetadopovo
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A invasão russa à Ucrânia despertou novamente a bipolarização mundial, nos moldes da Guerra Fria, com a diferença de que a China se posiciona cada vez mais como a principal ameaça aos Estados Unidos. Nesse cenário, o novo ano começa com uma provável ofensiva russa mais ostensiva no país vizinho e com ameaças nucleares que mudam a forma dos países investirem em segurança. Nesse cabo de guerra entre os dois extremos do globo, devem respingar consequências e conflitos até mesmo na América do Sul.
Desde que eclodiu a invasão russa ao país vizinho, em 24 de fevereiro de 2022, os exercícios militares entre Rússia e China passaram a preocupar mais os Estados Unidos e seus aliados. Na última sexta-feira (30), o presidente russo, Vladimir Putin, declarou ao ditador chinês, Xi Jinping, que pretende reforçar os laços entre os dois países.
“No contexto de pressões e provocações sem precedentes do Ocidente, estamos defendendo nossas posições e princípios”, afirmou Putin, antes de anunciar que deseja “reforçar a cooperação entre as forças armadas da Rússia e da China”. Segundo ele, “a coordenação entre Moscou e Pequim no cenário internacional (…) serve à criação de uma ordem mundial justa baseada no direito internacional”.
Ao lado do gigante asiático e da Rússia, a Coreia do Norte também chamou a atenção da segurança ocidental no ano passado. O país lançou mais de 90 mísseis de cruzeiro e balísticos em 2022, contra oito em 2021 e quatro em 2020. Especialistas apontam que o ditador norte-coreano, Kim Jong-Un, pode ter aproveitado o momento em que o Ocidente estava voltado para a guerra na Ucrânia para fazer seus exercícios que atestam o desenvolvimento militar do país.
Segundo o mandatário norte-coreano, as armas representam a “dignidade, o corpo e o poder absoluto do Estado” e Pyongyang continuará a desenvolvê-las “enquanto existirem armas nucleares na Terra”.
Enquanto isso, EUA, Coreia do Sul e Japão têm se preparado melhor para combater a Coreia do Norte nuclear e a aliança russo-chinesa. Os países ocidentais realizaram exercícios conjuntos e dispararam seus próprios mísseis em resposta aos testes norte-coreanos. Ao mesmo tempo, americanos intensificaram a presença na região, com instalação de porta-aviões e envio de novos equipamentos para os aliados que ficam no continente asiático.
Estratégia americana
Em outubro de 2022, os Estados Unidos divulgaram a nova versão da Estratégia Nacional de Defesa. “A competição com a China foi apresentada como sendo o mais complexo desafio à segurança dos EUA. China e Rússia são, nessa ordem, as mais perigosas ameaças”, aponta Paulo Roberto Gomes da Silva Filho, coronel da Cavalaria da Reserva do Exército e mestre em estudos de defesa e estratégia na Universidade Nacional de Defesa, em Pequim.
“Trata-se do aprofundamento da mudança de foco que já havia iniciado no governo Donald Trump, que China, Rússia, Irã e Coreia do Norte foram apontadas como as principais ameaças aos EUA”, detalha o especialista. Até então, o terrorismo figurava nos documentos oficiais do país como principal ameaça”, analisa.
De acordo com o documento americano, o gigante chinês é “crescentemente agressivo, com o objetivo de remodelar a região do Indo-Pacífico e o sistema internacional e a finalidade de adequá-los aos seus interesses”.
A Rússia, por sua vez, é descrita como um país que “usa força para mudar fronteiras, ignorando a soberania de países vizinhos, para reimpor uma esfera de influência imperial”.
A Guerra na Ucrânia
Apesar da Guerra na Ucrânia estar demorando mais do que o tempo que possivelmente os russos esperavam e da Rússia encontrar dificuldades no território vizinho, os conflitos não têm previsão para acabar e tendem a se intensificar no inverno europeu.
O think-thank americano Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês) concordou com uma avaliação da liderança militar ucraniana de que a Rússia poderia estar se preparando para uma grande ofensiva terrestre nesse inverno no hemisfério norte, possivelmente contra Kiev, já que a estratégia de bombardear a infraestrutura energética ucraniana “não está conseguindo coagir a Ucrânia a negociar ou oferecer concessões preventivas”.
O analista de defesa e estratégia Gomes Filho avalia a pequena possibilidade do conflito se expandir para além do território ucraniano, como para a Transnístria, na Moldávia, para Belarus, ou ainda para um país membro da OTAN, como a Polônia. “Essa última possibilidade poderia provocar uma escalada acentuada do conflito, com repercussões inimagináveis”, declara.
Por enquanto, a guerra no Leste Europeu reforçou laços da Rússia com o Irã, servindo de oportunidade para os iranianos venderem equipamentos aos russos, especialmente os “drones kamikazes”. Em troca, a Rússia poderia auxiliar os iranianos no desenvolvimento de seu programa nuclear. Segundo Filho, essa relação pode aumentar as tensões no Oriente Médico, com uma maior desconfiança mútua entre Irã, Israel e Arábia Saudita.
Cooperação com aliados e consequências na América do Sul
Nesse cenário mundial, o Japão anunciou que dobrará o orçamento de defesa, atingindo o maior investimento militar da nação pacifista desde a Segunda Guerra Mundial. O novo plano incluirá a aquisição de mísseis capazes de atingir a China e a Coreia do Norte.
Já o presidente sul-coreano, Yoon Seok-youl, apoiou exercícios militares conjuntos com os americanos. Recentemente, o “Watchful Storm” se tornou o maior exercício aéreo da história do país.
Com a crescente ameaça chinesa, a soberania de Taiwan – que a China declara ser parte do país – também se tornou uma preocupação para o Ocidente. Nesta semana, a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, anunciou que estenderá o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano a partir de 2024 devido ao atual cenário geopolítico.
Os EUA contam com a mobilização dos países ocidentais em uma espécie de cooperação política e militar. O documento publicado em outubro apresenta uma ferramenta de enfrentamento à ameaça oriental, a chamada “dissuasão integrada”, que consiste em ações destinadas a alinhar as políticas, os investimentos e as atividades do Ministério da Defesa do país e, ao mesmo tempo, obter uma cooperação de países parceiros e aliados.
A Estratégia Nacional prevê a “dissuasão integrada como um conceito para manter a paz e a estabilidade no Hemisfério Ocidental, priorizando a cooperação regional em todos os domínios de defesa e segurança e reduzindo barreiras em relação ao compartilhamento de informações e capacidades”.
Entre os aliados, os americanos têm como alvo os países da América do Sul, que têm fortes relações comerciais com a China. Isso deverá aumentar as tensões entre os dois adversários geopolíticos e respingar na política dos países da região.
“Isso será percebido com crescente intensidade, além de movimentos de ambos os lados para conter o adversário e atrair os sul-americanos para sua esfera de influência”, analisa Filho.
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